a travessia invisível

Para quem perdeu a fé (e ainda assim está aqui). Este livro não nasceu da vontade de ensinar. Nasceu da urgência de contar o que vivi quando o chão desapareceu. Durante muito tempo, caminhei dentro de um sistema a acreditar que ele fazia sentido. Dediquei-me à estética, aos cabelos, à cenografia, à espiritualidade, ao serviço, tudo com integridade. Fui terapeuta, cenógrafo, cabeleireiro, conselheiro e ouvinte. Acompanhei histórias de trauma, guardei choros escondidos no lavatório, dei forma a cabelos que escondiam dores, dei beleza a marchas populares onde escondiam o meu brilho, vi almas destruídas em cabelos bonitos. Ao mesmo tempo, mantinha-me firme na busca pela conexão com o Universo, Deus, como queiram interpretar. Passei por instituições religiosas, escolas espirituais, caminhos esotéricos. Toquei a luz e por vezes, queimei-me nela. Até que algo em mim começou a ruir por dentro, sem aviso. Um colapso silencioso, invisível e brutal. Era como se a alma gritasse: — “Não é por aqui, não é mais assim, não nasceste para isso.” Este livro nasce desse grito, mas não como revolta e sim como libertação. É uma obra escrita no fio entre a dor e a lucidez.