Cartógrafo de Dunas

Em Cartógrafo de Dunas, vejo que a imponderabilidade se torna a mola-mestra da criação poética do autor. Como arquitetar seus poemas/dunas? Como erigi-los se a matéria (palavras, imagens, realidade e ficção) escapa entre os dedos como grãos de areia? O título da obra que tenho a honra de prefaciar nos apresenta um verdadeiro oxímoro, porque integra, em uma expressão, a oposição entre duas ideias contrárias: o fixo (cartógrafo) e o móvel (dunas). Desse modo, à primeira vista já se percebe a proposta de um livro-conceito, um livro-ideia. O que faz um cartógrafo? Realiza, objetivamente, descrições e medições, a partir de um preciso instrumental técnico e teórico. O que são dunas? São componentes móveis e inconstantes de uma paisagem que se modifica incessantemente. São as dunas, portanto, apesar da impraticabilidade de sua medição e de seu mapeamento (e talvez justamente por isso), os elementos simbólicos organizadores deste ambicioso projeto poético “textecido” por Arzírio Cardoso.